domingo, 31 de agosto de 2008

Padre Pedro: 56 anos no Brasil

Campo Grande - A comunidade católica e os grupos sociais do município tiveram motivos de sobra para comemorar o mês de agosto. Nesta data, em 1979, o padre Pedro Neefs, ícone das lutas e causas sociais, chegava para atuar no município quando ainda se chamava Augusto Severo.Nessa cidade sua trajetória de formação política conquistou, na época, seu ápice.

O trabalho desenvolvido em toda paróquia foi o de defender os mais necessitados, principalmente na luta pela reforma agrária, que ganhou força após a disseminação de suas idéias, já que não existia até então.Ao chegar à cidade o pároco se aproximou do Sindicato dos Trabalhadores Rurais, que prestava assessoria a toda a população ligada ao campo.

O holandês ainda se vinculou aos jovens, onde o trabalho de formação política foi vital na busca do seu ideal. "Na semana santa de 1980, juntou 80 jovens de Campo Grande e fundou o grupo de jovens, que foi o primeiro grupo da cidade", destacou a coordenadora da Cooperativa Sertão Verde, Zuleide Araújo.

Em 1986, o padre defendeu o direito ao trabalho de várias mães de família apoiando a criação da Associação Comunitária dos Trabalhadores Avulsos e Artesãos de Augusto Severo (ACTAS), que se tornou responsável por absorver toda a produção, vendendo-a em Natal e no mercado exterior, como Holanda.

"Como eu não pertencia a nenhum partido político, fiquei mais livre para o ideal da minha vida de mudar e transformar a vida e a cabeça do povo que botava a culpa em Deus sem assumir o atraso e a pobreza reinante. Quis ensinar que devemos ter nosso futuro em nossas mãos", disse padre Pedro Neefs.

O trabalho do padre é contínuo e permanente. Hoje, mesmo estando vivendo em Recife, onde passa por um tratamento de saúde, o pároco continua trabalhando em prol das pessoas que precisam de apoio e ensinamento.

Um das grandes vitórias conquistadas recentemente foi o direito de voltar a andar, mesmo que aos poucos, depois de passar vários anos prostrado em uma cadeira de rodas.
Pe. Pedro se transformou numa rocha do Oeste

Um fantasma entre as décadas de 1970 e 1990 rondou o Oeste potiguar: era o espectro de novas concepções voltadas aos ideais libertários e igualitários de uma nova teologia.

Os fazendeiros, políticos e católicos mais conservadores se juntaram em uma santa campanha difamatória contra essa tentativa de mudança. Porém, tiveram grupos - jovens, trabalhadores rurais, dentre outros oprimidos -, que se uniram a um padre, de origem holandesa, para que a construção de uma comunidade menos desigual fosse posta em prática.

Peter Marinus Maria Neefs nasceu em 1929, na cidade de Breda, Holanda. Dez anos mais tarde, em 1939, o mundo passava por outro grande impacto, conseqüência da eclosão da 2ª Guerra Mundial. No ano de 1940, foi enviado ao Seminário Menor, onde começou os estudos teológicos. Convidado por um grupo de padres do Sagrado Coração de Jesus, chegou ao Brasil, em 1952, para concluir o seminário maior.

No Brasil, Peter Marinus Neefs traduziu o nome para o português e manteve seu sobrenome, assim se transformou em Pedro Neefs. Em 1957, retornou a Holanda para ser ordenado padre e celebrar sua primeira missa.

Dois anos mais tarde foi enviado a cidade de Beberibe-CE para realizar o trabalho de pároco. No entanto, suas idéias não foram aceitas, sendo "expulso" da paróquia pelos superiores.

Em 1964, Pedro Neefs foi transferido para Apodi (RN). Na diocese de Mossoró, padre Pedro encontrou apoio. Segundo ele, na realidade era uma diocese com padres muito avançados. Porém, diante do trabalho de repressão e das diferenças de pensamento na própria igreja, padre Pedro disse que nessa época descobriu na diocese de Mossoró "que existia uma igreja oficial e uma igreja do povo".

Nesse período, estava sendo inaugurada a Universidade Regional do Rio Grande do Norte (FURRN). Com a ajuda do Departamento de Ação Social da FURRN foi criada, na sede do município, a Fundação para o Desenvolvimento do Vale do Apodi (FUNDEVAP), tendo o religioso como primeiro presidente.

A Fundevap criou uma área de produção agrícola que exportaria mais tarde legumes e frutas para os mercados de Natal, Fortaleza e até para a Europa.Diante de um boato que seria candidato a prefeito na cidade, fruto do apoio popular e do trabalho desempenhado pelo padre, ele foi afastado pela diocese de Mossoró dos trabalhos como pároco da Paróquia de São João.

Depois de Apodi, o religioso ainda trabalhou na diocese de Mossoró, sendo mandado várias vezes ao Vaticano em trabalho oficial da igreja. Em 1979 voltou ao Rio Grande do Norte, dessa vez para atuar na cidade de Augusto Severo, hoje Campo Grande.
Vida de Pedro vira projeto acadêmicoA história do padre Pedro Neefs, a Rocha do Oeste, que já virou documentário e várias matérias jornalísticas será tema agora em um evento acadêmico internacional.

O projeto será apresentado entre os dias 12 e 13 de setembro pelo graduando em História pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) Saul Estevan Fernandes, durante o Congresso Internacional de Pesquisa (auto) Biográfica (CIPA).Saul está desenvolvendo um trabalho monográfico que tem como tema "Entre a resistência e o apoio: padre Pedro Neefs e o processo de formação política no Oeste potiguar".

O trabalho apresenta os primeiros resultados de uma pesquisa em andamento sobre a memória dos grupos sociais do Oeste potiguar, que participaram do processo de formação política, resistindo ou se identificando com o discurso e as ações de Pe. Pedro Neefs.

As reflexões estão baseadas no trabalho de história oral, além do documentário intitulado "Pedro, a Rocha do Oeste". A pesquisa busca analisar qual a importância do discurso e das ações do padre para a formação política dos grupos ditos oprimidos, sendo também analisado o sentimento de resistência de boa parte da população.

Fonte: J Paiva do Jornal de Fato
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