terça-feira, 8 de setembro de 2009

Fontes de água mineral estão ameaçadas

Um estudo inédito no Estado alerta o poder público e a sociedade sobre o futuro das fontes de água mineral, principalmente as que se localizam em área urbana da Grande Natal.

A análise realizada pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte a pedido do Sindicato das Empresas de Água Mineral tem caráter preventivo, mas aponta a necessidade de se exigir estudos mais detalhados de impacto ambiental nessas áreas, para evitar que a qualidade desse recurso essencial à vida seja prejudicada.

O estudo revela que 80% das fontes exploradas hoje por 16 empresas no RN se localizam em área rural, enquanto 20% estão em área urbana e precisam de atenção imediata.

Para o responsável pelo estudo, professor do Departamento de Geologia/ UFRN José Braz Diniz, o meio urbano é uma grande ameaça para a água que flui das fontes. "Sem ações planejadas de saneamento, tratamento do esgoto, coleta de lixo e drenagem adequada, a água subterrânea pode ficar comprometida", alerta.

Pela primeira vez um estudo mostra também que a água mineral vem de seis bacias diferentes. Do total, sete fontes tem origem na bacia do rio Potengi (entre Natal e Macaíba), área mais preocupante.

Todas possuem as mesmas características físico-químicas: baixa salinidade, sabor doce, potável de mesa, ou seja, apropriada para o consumo e sem propriedade medicamentosa. "Mesmo que flua naturalmente apropriada, o risco de contaminar-se na superfície é grande", lembra Diniz.

Ele chama atenção que uma vez contaminado o lençol freático, a fonte estará imprópria para consumo por várias gerações futuras. Outro alerta diz respeito à política de licenciamento para exploração das bacias.

Alerta para água da Cristalina do Oeste:

"A bacia do Rio Apodi, por exemplo, tem um grande potencial de exploração e apenas uma fonte instalada, mas se sua capacidade não for respeitada pode haver uma baixa da água disponível", revela ele, e se diz preocupado com licenciamentos futuros na região.

O estudo da UFRN foi enviado para todos os órgãos públicos das três esferas de poder no RN ligadas ao Meio Ambiente e sugere a criação de comitês permanentes para tratar da gestão das bacias. A lei 9.433/97 define a bacia hidrográfica como unidade básica de gestão. "A bacia protegida, protege a água que ingerimos.

Exemplo de um comitê foi o criado para o rio Pitimbu e o que está sendo criado para o Piranhas Açu", explica Braz Diniz. O professor José Diniz defende que o controle do uso da água seja descentralizado e participativo de baixo para cima, ou seja, a partir dos municípios.

"O documento apela aos órgãos responsáveis que fiscalizem de forma mais efetiva". Ele lembra do problema de altos níveis de nitrato enfrentados na capital. "Ele é resultado de décadas de desenvolvimento sem saneamento básico na cidade", comenta.

Ao mesmo tempo, novas mudanças estão sendo implantadas no país para garantir a segurança do consumidor. A partir de 23 de setembro, todos os vasilhames devem ser produzidos exclusivamente com resina virgem.

Em outras palavras, não será mais permitida a fabricação de garrafões com uma pequena porcentagem de plástico reciclado na composição.

Vale lembrar que um garrafão tem três anos de validade. Portanto, os que foram produzidos antes da norma entrar em vigor serão utilizados normalmente até expirar a validade.

Monitoramento deve ser constante

O monitoramento de fontes (água mineral que brota na superfície) e poços (exploração direta do subsolo) é permanente e obrigatório por lei.

É obrigatória ainda a realização periódica de dois tipos de análise: bacteriológica e físico-química. "Leva anos para que uma fonte mineral seja poluída a ponto de se tornar imprópria para o consumo humano e depois de poluída, levará anos para voltar a ser apropriada para consumo", reforça Magno.

A mudança na composição dos vasilhames está prevista na portaria nº387/08, que estabeleceu um ano para a adequação. Mas desde já o consumidor deve estar atento a outras normas: prazo de validade de três anos, rótulos contendo composição analítica, classificação segundo DNPM, armazenamento correto. Em casa, todo o cuidado também é essencial.

"O manuseio incorreto do garrafão pode ser suficiente para contaminar a água", diz Carlos Magno, chefe do Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM/RN).

Toda empresa que comercializa água mineral deve atender aos padrões técnicos exigidos para venda de alimentos, lembra. Caso isso seja desrespeitado, toda a riqueza mineral pode ser desperdiçada no processo de captação, envazamento, transporte ou armazenamento.

A análise físico-química do DNPM deve ser feita anualmente (período mínimo para que ocorram alterações significativas), mas a Anvisa, responsável hoje pelos levantamentos, realiza os levantamentos a cada três meses. Nas empresas, o monitoramento é diário e semanal para cada tipo.

As mudanças previstas com a nova portaria

Segundo Roberto Serquiz, proprietário da empresa de água mineral Santa Maria, já vem sendo implantadas desde abril, mas o processo leva tempo. "Até agora só uma empresa no Nordeste conseguiu se adequar para fornecer garrafões com plástico exclusivamente virgem para as empresas que comercializam água".

Ele diz que o investimento é alto, mas que o consumidor "deve ficar tranquilo quanto à segurança da água consumida".

Água mineral é fonte de hidratação

A água mineral é considerada um alimento porque além de matar a sede e hidratar o corpo, é fonte de nutrientes importantes para a vida. A água fervida perdeu nutrientes com o calor e a água tratada com cloro perdeu os microorganismos, tendo que buscar seu equilíbrio captando os presentes na flora intestinal, daí a dor de barriga com um dos sintomas de quem a ingere. Por isso, a água mineral é a mais completa e indicada.

Nela o homem encontra cálcio, flúor e outros minerais essenciais. O Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM) é uma autarquia federal ligada ao Ministério de Minas e Energia, que regulamenta e fiscaliza a exploração do patrimônio mineral de maneira ambiental e socialmente sustentável.

O órgão autoriza a exploração das fontes minerais com fins comerciais. "A água mineral passa um determinado período na zona subterrânea e, por isso, sai de lá equilibrada, sem precisar de um tratamento extra, e com todos os nutrientes que precisamos", explica o chefe do 14º Distrito Regional do Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM/RN), Carlos Magno.

Ele lembra que a hora de engarrafar é crucial para manter a qualidade da água. "Neste momento não deve haver nenhum tipo de contato com o líquido".

Outra preocupação de Magno diz respeito aos garrafões de outros estados que são comercializados em solo potiguar. "Caso não obedeçam as normas, podem acabar deixando no Rio Grande do Norte garrafões inadequados, e levando os adequados para fora, uma vez que são retornáveis". Mais informação na Tribuna do Norte.

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