Ajudar e não ajudar

Um jovem me pediu uns trocos, dia destes, na frente da padaria da BR. Contou-me um "drama", não me comovi e saí encabulado para fazer compras em Mossoró. Fiquei matutando, e concluí mais adiante.

Num semáforo em Mossoró, um jovem, mais ou menos a mesma idade do pedinte, fazia malabarismos como bolas de borracha. Tinha o nariz de palhaço, chapéu de palhaço e um sorriso de gente boa. Sinal fechado. Parei.

Antes de partir, buzinei ao rapaz, baixei o vidro e lhe dei umas pratas. Saí feliz e ouvindo:

— Muchas gracias, senõr!

Um diabinho, fantasiado de anjo para me enganar, que ia a meu lado, bateu-me no ombro:

— Qual é cara, tu não dás ajuda a quem precisa lá em Apodi e dás a um vadio de esquinas? É isso?

Não, não é isso. Primeiro, o cara que me pediu dinheiro tinha pinta de safado, aplicando-me o velho golpe de olhar para alguém com cara de otário, eu, e pedir dinheiro contando uma lorota. Não dou. O que mais encontro é gente contando dramas e pedindo ajuda para completar o dinheiro da passagem. Golpe velho.

Já o garotão que jogava as bolinhas de borracha para cima e as aparava no pescoço, no nariz, no ombro, o rapaz que fazia arte, ah, esse merece ajuda. E sabes por que, leitor? Porque ele está trabalhando. Sim, senhor, trabalhando. Ou ficar sob o sol, expondo-se a riscos no meio da rua, ouvindo xingamentos, será que isso não vale nada, será que é vadiagem? Não é, é arte.

E se alguém duvidar, peço a esse alguém que pegue quatro laranjas e as jogue, alternadamente, para cima e as pegue com habilidade, faça isso... tente. O jovem das bolinhas no semáforo é um artista, trabalha, treina, treina muito, tem disciplina para ficar jogando bolinhas para o alto e as aparando como se estivesse num circo.

Aliás, ele está no circo, no circo das esquinas, das ruas, onde o que mais há são palhaços sem fantasia. Dou dinheiro, sim, sempre que posso dou dinheiro a quem tem disciplina, a quem "estuda", a quem limpa para-brisa, a quem achou um jeito de ganhar dinheiro sem mentir que a mãe agoniza "no fundo de uma cama", como já me disse um safado na na Praça Robson Lopes, em Apodi.

O malabarista das esquinas ganha a vida dentro da lei, sem ofender nem constranger. Os artistas dos semáforos nunca ficam sem nada quando passo por eles. Talvez eu seja um deles com um desvio de rota, vim parar aqui, eles ficaram na esquina. Mas isso não é tudo, talvez a felicidade dos malabaristas das esquinas seja bem maior que a de muitos em carrões que ainda não estão pagos, que vivem como palhaços da vida sem nunca terem usado a fantasia...