quinta-feira, 2 de abril de 2009

Me pediram e republiquei: O menino Cego

O menino, ceguinho de nascença, ia fazer dez anos. Faltavam poucos dias e, uma tarde, o pai do menino ceguinho chega pra ele e diz:

- Meu filho, mandei vir dos Estados Unidos um colirio que vai curar a sua cegueira. É um remédio maravilhoso, milagroso. Só uma gotinha em cada olho e você vai poder enxergar!

O menino ficou todo feliz e disse:

- Que bom, pai. Agora eu vou poder saber como é você, como é a mamãe, meus amigos, o azul, o feio, as meninas, Nossa Senhora, as flores, tudo! Que dia o remedio chega?

- Eu te aviso. - disse o pai. E todo dia o pai chegava do trabalho e o menino corria pra ele, aflito, batendo nos moveis, gritando:

- Chegou, papai? Chegou? E no dia 28 de março, o pai chegou em casa, aproximou-se do filho ceguinho e balancou um vidrinho no ouvido dele.

- Sabe o que é isto, filhinho?
- Sei, sei!
- gritou o menino.
– É o colirio! É o colirio!

- Exatamente, meu filho. É o colirio.

- Que bom! Agora eu vou poder ver as coisas, saber se eu pareço com você, saber a cor dos olhos da mamãe, usar meus lápis de cores, ver os passaros, o ceu, as Borboletas. Vamos, papai, pinga logo este colirio nos meus olhos!

- Nao. Hoje, nao

- disse o pai.

- Mandei chamar seus avos, todos os nossos parentes; eles chegam no dia de seu aniversario, quero pingar o colirio com todo mundo aqui em sua volta...
E o menino disse meio conformado:

- É. O senhor tem razao. Quem já esperou dez anos, espera mais uns dias. Vai ser bom. Ai eu vou poder ficar conhecendo todos os meus parentes de uma vez. E foi dormir, mas não dormiu.

Passou a noite toda sofrendo, rolando na cama, pra lá, pra cá. Quando foi no dia seguinte, dia 29 de março, cedinho, ele acordou o pai.

- Papai, pinga num olho só. Num olho só. Eu fico com ele fechado até a vovó chegar, juro! O pai disse:

- Não. Aprenda a esperar!

- Mas, papai, eu quero ver a vida, papai. Eu quero ver as coisas.

- Tudo tem a sua hora, meu filho. No dia do seu aniversario voce verá. O menino ceguinho passou sem dormir o dia 29, o dia 30 e o dia 31.

Quando foi ali pelas dez horas da noite ele chegou pro pai e disse:

- Papai, só faltam duas horas para o meu aniversario. Pinga agora, papai.

O pai pediu que ele esperasse a hora certa. Assim que o relogio terminasse de bater as doze badaladas, ele pingaria o colirio nos olhos do menino.

E o menino esperou. A meia-noite, toda a familia do garoto se reuniu no centro da sala e aguardou o final das doze badaladas. O menino ouviu uma por uma, sofrendo. Bateram as dez, as onze e as doze!

- Agora, papai. Agora! O colirio. O pai pegou o vidrinho, pingou uma gota num olho. Outra no outro.

- Posso abrir os olhos? - perguntou o menino.

- Não! - disse o pai. - Tem que esperar um minuto certo, senão estraga tudo. Vamos lá: Sessenta, cinquenta e nove, cinquenta e oito, cinquenta e sete... - e foi contando enquanto o menino ficava de cabecinha erguida esperando

- e dez, e nove, e oito, e sete, e seis, e cinco, e quatro, e três, e dois e um e já! O menino abriu os olhos e exclamou:

- Ué. Eu não estou enxergando nada! E a familia toda grita:

- Primeiro de abrilllllll!!!

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