Como faz falta um amigo. Dizer amigos, no plural, já exige reticências... Já pedi aqui que levante a mão o leitor, a leitora que tiver três amigos. Três, não mais. Pai e mãe não valem, irmãos valem...
Ninguém tem, ninguém mesmo. Tudo bem, não vamos discutir, mas que não tens, não tens!
Amigo, já disse isso aqui à exaustão, é aquele sujeito, aquela pessoa, que sabendo que nossa casa está em chamas chega primeiro que os bombeiros.
Amigo é o sujeito que divide, dividir é partir ao meio, a dor, a alegria, o que for, conosco. Raros, raríssimos tem esse tipo de amigo. Conhecidos, ah, conhecidos temos aos oceanos. Abundam.
O que quero dizer é que todos os que se autodestruíram na vida, dos suicidas aos que se destruíram e se destroem no casamento, na saúde, na profissão, na vida, enfim, todos esses nunca tiveram um único e disponível “amigo”. Se o tivessem tido não teriam feito o que fizeram. Michael Jackson foi um deles.
Um amigo o teria pegado pelo braço e o sacudido à realidade quando ele rejeitou a sua negritude e quis ser branco. Um médico “amigo” não teria concordado em mutilá-lo o nariz.
Ali Michael Jackson começou a morrer. Faltou-lhe o amigo, sobraram-lhe os “conhecidos”, as aves de putrefação que cercam as celebridades e a todos nós. Amigo nos chama de loucos quando queremos fazer uma bobagem. Amigo, eu disse.
Um coração amigo nos “escuta”, escutar é mais que ouvir, é jogar a mente e o coração sobre o que está sendo ouvido. Quem nos escuta nos ama, nos ajuda, nos tira das tentações, nos salva.
Nós mesmos, raramente escutamos os outros. Quando muito fingimos que estamos ouvindo, não estamos, estamos ouvindo a nós mesmos.
Quando emprestamos nossos ouvidos à uma pessoa, vamos encantá-la com a melhor das graças: ouvir o outro.
E o ouvindo os outros podemos salvar-lhes, desde, é claro, que sejamos amigos. Amigo grita, xinga, ralha, pega pelo braço, diz verdades e não se importa com o bico do amigo xingado, quer-lhe o bem, ama-o.
Precisa-se de um amigo, um só. Três é milagre.
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