Campeã de audiência e verdadeiro fenômeno nas ruas e nas redes sociais, a
novela Avenida Brasil sai do ar nesta sexta-feira (19), mas com certeza
deve entrar para a história do gênero como a primeira produção da teledramaturgia tupiniquim a centrar
sua trama na chamada nova classe média brasileira.
Barulhentos, sem modos, mas trabalhadores alegres e solidários: assim são as
personagens de Avenida Brasil, espelho dos milhões de brasileiros que
saíram da pobreza e que claramente aprovaram sua caracterização nesta obra de
ficção que leva diariamente 38 milhões de pessoas para a frente da TV.
Em seus últimos dias no ar, a criação de João Emanuel Carneiro virou tema
obrigatório nas conversas até mesmo das poucas pessoas que não acompanham a
trama. Artistas retardam o início de seus shows, compromissos são marcados para
depois da exibição do capítulo e até os motoristas de táxi acompanham a trama no
próprio carro.
A febre de Avenida Brasil alterou, inclusive, a agenda da presidente
Dilma Rousseff, que mudou a data de um comício de apoio ao candidato do PT à
Prefeitura de São Paulo para que não coincidisse com o último capítulo da
novela.
Dilma também participará nesta sexta em outro comício em Salvador, mas o
evento deverá terminar antes do início da telenovela. E, para evitar a dispersão
dos partidários o PT, decidiu instalar no local um telão para que o último
capítulo possa ser acompanhado.
Esta é a novela mais comentada dos últimos anos e a população incorporou as
expressões e trejeitos dos personagens da história. Nos estádios, quando um time
joga mal, a torcida costuma gritar o nome do Divino Futebol Clube, o time
fictício de terceira divisão da novela.
Para criar a trama, João Emanuel Carneiro disse ter se inspirado na chamada
"classe C", que representa quase 55% dos 195 milhões de habitantes do país,
sexta economia do mundo.
As fileiras da classe C foram engrossadas com as políticas sociais do
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2010), que tirou mais de 40
milhões de pessoas da pobreza.
"Foi uma grande ideia centrar a novela na classe média emergente. É o reflexo
do novo Brasil, das famílias que ascenderam, conseguiram dinheiro,
mas que não necessariamente têm boa educação", explicou à AFP o sociólogo
Geraldo Tadeu, do Instituto Universitário de Pesquisas do Rio (Iuperj).
A
vingança de Nina contra a vilã Carminha constitui o elo condutor da trama, mas
são os novos ricos, com seus exageros e sua espontaneidade que são a base e
atração maior.
A novela também reflete a vida do pequeno empresário, como Monalisa,
batalhadora dona de uma rede de salões de beleza, e do trabalhador comum. "É uma
classe emergente, que está consumindo e tem orgulho do que é, e isto é muito
importante", afirma Mauro Alencar, especialista em teledramaturgia brasileira,
em uma recente entrevista à Globo News.
O fenômeno Avenida Brasil também é comprovado pela repercussão nas
redes sociais, onde cada capítulo domina os "trend topics".
"As redes sociais não roubam audiência, e sim potencializam a comunhão que
existe entre
o público e a novela. É delicioso acompanhar ao mesmo tempo a novela e os
comentários no Facebook e Twitter", comenta o diretor da novela, Ricardo
Waddington, falando ao jornal O Dia.
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